8.06.2006

A vida coagulando em minhas veias...

Este foi o primeiro texto postado neste blog. Quer dizer, uma parte dele apenas. Agora o mostro na íntegra.

Foto: eSQCer
Qual é o caminho que se pega quando não se tem aonde ir? Você diria qualquer um, mas eu respondo caminho algum. O melhor é não fazer nada. O silêncio talvez diga algo, quem sabe... Talvez ele só fique quieto, como todo silêncio. E ria, baixinho, do meu desespero, da minha impotência.
Como você. Que não entende minhas lágrimas sem sentido ou meu olhar perdido em algum canto da sala.
Quando é que vai amanhecer?
Ouço passos perdidos atrás da porta. São 2h da madrugada. Você perdeu a chave do quarto e eu não vou abrir. O lado de fora não me interessa mais.
Você bate na porta. Eu finjo que estou dormindo. Ouço sua respiração e percebo sua impaciência. Será uma longa madrugada...
Caminho até à porta e a divido com você. Cada um em seu universo paralelo.
Conversamos em nosso silêncio cotidiano.
Você está dormindo? Você sempre dorme quando tento conversar.
Estou cansada. Talvez não esteja aqui quando encontrar a chave da porta. Onde fica a saída de incêndio? Tem uma escada na janela. Você sabe que tenho medo de altura. Então, me pergunta o que quero afinal.
Quero voar com os pássaros por sobre a vida. Quero ver de longe o céu derramar seu pranto. E retornar, aliviada, para algum lugar que eu possa chamar de lar. Dentro de mim. Ser é tão vasto... Meu mundo é deveras imenso e não sei onde me esconder quando a angústia esmaga minhas cordas vocais.
Você ainda está lá fora. E já faz muito tempo que não diz nada. Eu sempre falo sozinha. As paredes parecem me esmagar aqui dentro. Você grita comigo, tentando me reanimar. E no delírio de minha tormenta, relembro uma vida que jaz em alguma esquina da cidade.
O vinho transborda e a taça, estraçalhada em pequenos cristais, rasga a mão trêmula que se banha num vermelho escarlate.
A mancha no chão é ainda vibrante como as cores de uma manhã ensolarada de verão, como a tela que pintei ontem com as cores do entardecer.

4 comentários:

Anônimo disse...

Palavras são seres de um mundo encantado,desconhecem a forma que são e trazem à tona seu reino de possibilidades a cada pronúncia.Sao indomáveis criaturas,criadoras criadas por quem pensa possuir a chave das portas do castelo oculto :o silêncio. Residente no mundo dos deuses que escolhem criar seu destino com poder divino legado de criar pelo verbo encarnado.Palavras são como recipientes do intradutivel que utilizamos em nossos laboratorios de mesclas alquimicas para atingir a mistura e dosagem sempre quase perfeita para a traduçao do que se passa no mundo interior afinal..."ser é tão vasto". Doces saudaçoes ,querida amiga!Foi com muita alegria que eu li o seu blog .Fiquei maravilhado com a suavidade poetica com que consegues transmitir nuances de tua alma .As fotos são lindas e os escritos pintam verdadeiras paisagens em minha imaginaçao.Agradeço pela liberdade com que te permites expressar teus mais profundos anseios ,ela acaba libertando tambem quem se permite ler com a alma teus poemas.Segue assim:livre.Esteja sempre com caneta e papel pois acredito que tens o dom de cultivar a palavra.Assim não passarão em vão por ti os momentos que sabes viver e que ,mesmo quando banais,consegues transformar em ouro.Beijos!E siga crendo em teu poder de transformar o mundo a partir de ti mesma. RK!

eSQCer disse...

Fiquei imensamente feliz por tuas palavras, caro amigo! Reconheci vc logo pelas primeiras palavras. Espero "encontrar-te" sempre por aqui! Sinta-se à vontade! Bj.

Jana! disse...

suq,
esse texto tem imagens lindas e frágeis. gostei da taça se quebrando e um movimento lento de reconstrução dos cacos.

deixa só eu voltar para essa ilha...

murilo disse...

você todos os seus cacos e cores hein?!
supreendente não é o tamanho do meu texto, mas que alguém tenha se idignado a lê-lo até o fim. valeu
beijos blogados