eSQCer...
Ser é tão vasto...
7.26.2010
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5.27.2010
Portão nº 5
Ela estava sentada, solitária, em uma enorme sala de embarque, diante do portão 5. Eu ia ao banheiro, quando percebi seus olhos, aparentemente, aflitos em minha direção. Fiquei em dúvida se realmente precisava de algo. Ela não me chamou e eu segui meu caminho.
Mas aqueles olhos me seguiram e não pude ficar alheia. Ao sair do banheiro fui conversar com a senhorinha. Foi quando descobri seu destino - minha amada terra natal.
Dona Eulália estava preocupada porque, há poucos minutos, as pessoas que lotavam aquela mesma sala haviam embarcado. Ao ver, porém, seu bilhete descobri que dona Eulália estava deveras adiantada - exatamente duas horas.
Tirando um pedaço de papel do bolso, ela me pediu para telefonar para um celular ali anotado. Era o telefone de sua filha, a quem deixara na cidade maravilhosa.
_ Pode ligar a cobrar, ela disse.
Disquei o número e lhe passei o fone.
Após uma breve conversa, dona Eulália desligou e sentou-se ao meu lado. Agradeceu-me com toda gratidão de pessoa humilde que era:
_ Deus te proteja, te dê saúde e te ajude no seu trabalho!
Perguntou se eu era "aeromoça" e resmungou algumas coisas sobre a companhia pela qual viajava.
Conversamos por mais algum tempo. Me falou onde morava em São Luís e disse que seu filho ou sua neta a receberiam no aeroporto da Ilha do Amor.
Expliquei a ela sobre seu horário de embarque, caso quisesse passear pelo terminal.
_ Não, minha filha. O "aeromoço" disse para eu aguardar aqui e não sair de jeito nenhum.
Estava preocupada também com sua condição de idosa:
_ Tem muita gente que se aproveita de nós, aposentados.
Não queria deixá-la ali, sozinha, mas precisava voltar ao trabalho. Passei-lhe mais algumas informações, caso precisasse usar o banheiro, sentisse fome ou sede, e me despedi.
Com o coração apertado lembrei-me de minha querida avó, que há um mês ficara viúva e a quem não pude consolar com um abraço. Senti certa inveja da senhora que iria voltar para o seio de sua família, para o seu lar.
Após cruzar o portão número 5, dona Eulália me deixaria para trás e eu amargaria a solidão, não de uma sala de embarque, mas de toda uma cidade ainda estranha.
4.11.2010
Bye, bye, São Luís...
Sempre pensei em como seria o dia em que sairia de casa. Achava que seria após o casamento, mas foi outro tipo de compromisso que me tirou do lar: o trabalho. E não foi só de casa que saí... Foi do Estado.
Em comitiva, família, amigos e o noivo me acompanharam até o aeroporto. Foi um trajeto difícil. Aquelas ruas tão familiares me levavam agora a um mundo de incertezas, de mãos dadas comigo, assim como as pessoas queridas à minha volta.
Ver aqueles que sempre lutaram por mim e comigo com os olhos vermelhos e marejados, me fragilizou deveras. Queria dizer: "tudo bem, a gente se prepara a vida inteira para esse momento natural". Mas eu não estava preparada.
E como uma criança perdida em praia num dia de domingo, eu chorei desesperadamente.
Mais tarde, sozinha, ao voar sobre a noite de minha velha e boa cidade, constatei a beleza daquele mapa luminoso e parti rumo ao desconhecido. Sou uma folha em branco novamente.
8.14.2009
O GATO DA MINHA MÃE
Desde criança, tivemos em casa muitos animais de estimação. Um deles, porém, nos marcou consideravelmente. Não que os outros não tenham deixado sua marca, mas este... Era um gato siamês, grande, barrigudo, preguiçoso, um bom companheiro. Ele morreu esta noite.
Como disse no início, sempre tivemos animais: cachorros das raças rotwailer, akita, pastor alemão, dálmata, labrador, vira-latas, até um pombo eu já criei. Mas os gatos, não sei, sempre gostei de tê-los – acho que sua independência preenchia o que faltava em mim. E embora digam que são interesseiros, os meus eram amorosos e cúmplices.
Meu primeiro gatinho foi presente da minha avó. Era um filhote de sua gata P&B. Os gatos da minha avó eram sempre P&B. Os meus, não. Geralmente eram rajados de cinza, branco e preto, mas já tive um completamente preto, de olhos amarelados, bastante peralta, confesso: o terror da minha mãe. Adorava arranhar seu sofá. Ele morreu atropelado. Só soube da notícia depois. Na maioria das vezes, eles sumiam. Acho que cansavam e iam buscar outros ares. Ou quem sabe, minha mãe arranjava outra família para eles às escondidas – ela fez isso com um cachorrinho que tive uma vez, desde então, duvidei do sumiço de alguns bichos.
Nunca fui de colocar nome em gatos. Em cachorros, sim; eles precisam mais disso. Mas os gatos... Eu os chamava de bichano. Eles nunca reclamaram, acho até que gostavam bastante. Nosso último gato foi um presente para a minha mãe, que como eu, partilhava de um amor especial pelos felinos. Eu devia ter treze ou catorze anos e morávamos no interior. Meu pai e eu compramos, na verdade, dois gatos siameses. Eles eram inseparáveis e manhosos.
Um dia, a filha da vizinha me chamou para reconhecer um gato que ela encontrara no beco de sua casa. Morto. Era um de meus gatos. O menor. Já devia estar morto há alguns dias e cheirava mal. Não consigo lembrar o que fizemos com ele. Lembro apenas da tristeza do outro gatinho que agora tinha que se contentar somente com nossa companhia. Mas nos saímos bem.
Depois que nos mudamos para a capital, o bichano tornou-se mais caseiro, engordou bastante e ficou ainda mais preguiçoso. Ele adorava estar no meio das pessoas, sempre à procura de um afago carinhoso ou de um pé para se recostar. Lembro de seu olhar sonolento e de seu miado agudo quando nos via com seu pratinho de comida.
Doze anos de amizade! Ele reinava entre todos os animais, inclusive os cachorros considerados mais ferozes de casa. Nenhum deles ousava se aproximar do meu bichano, que os dominava apenas com o olhar – e unhadas de vez em quando.
Nos últimos dias, porém, algo nos preocupava. A idade pesava demais naquelas patinhas; minha mãe achava que ele estava ficando surdo. O olfato já não era mais o mesmo, andava cansado. Vinha dormindo perto do portão da garagem, o que nos preocupava, pois o fluxo de carros era frequente.
Ontem à noite, o esperado aconteceu: meu irmão o atropelou ao entrar na garagem. Meu pai foi testemunha, mas não sabia dizer o quanto o acidente poderia tê-lo machucado. Ouvimos sua voz preocupada. Eu e mamãe saímos à procura do bichano. Fui até o portão, na esperança de que ele tivesse só se assustado e saído para rua. Estava escuro. Minha mãe o achou deitado na lavanderia. Quando nos viu, soltou um miado dolorido. Meu coração ficou apertado. Não conseguíamos encontrar nenhum sinal de ferimento aparente.
Papai o pegou nos braços e o colocou em cima da mesa da garagem. O gatinho respirava ofegante e sua língua estava pálida. Percebemos que ele não conseguia andar direito, o que nos fez pensar que a lesão fosse na coluna, pois as patinhas não pareciam quebradas.
Mamãe lhe deu um remédio para a dor e um antiinflamatório. Eu trouxe água. Coloquei uma compressa de gelo em sua coluna. Depois de um tempo, parecia melhor. Forramos um cantinho no chão e ele ficou quietinho. Pedi a meus pais que o levássemos ao veterinário, mas já era tarde, estávamos sem carro (meu irmão já havia saído), minha mãe achava que não havia nenhum pet shop aberto. Ele realmente parecia melhor.
Um tempo depois, minha irmã chegou da faculdade e fui abrir a porta. Contei a ela o ocorrido e aproveitamos para dar uma olhada no bichano. O encontramos próximo à porta e respirava cansativamente, como outrora. Chamamos mamãe. Minha irmã telefonou para uma amiga que tem animais e ela nos falou de um pet shop 24h perto de sua casa – disse que ia avisar o veterinário sobre a situação. Mamãe o colocou em um travesseiro e seguimos eu, ela, minha irmã e minha tia rumo ao pet shop. O bichinho lutava, a respiração fraca. Quando enfim chegamos, já não contínhamos o pranto. O veterinário e seu ajudante aplicaram-lhe remédios, massagem cardíaca, mas era tarde. Eles disseram que não havia fraturas, nem hemorragia. Sua resistência estava debilitada devido à idade e provavelmente já estava doente, o que só agravou seu quadro.
No caminho de volta para casa, o silêncio. Minha mãe o trazia nos braços, sobre o travesseiro. Agora, eu continha o choro e vinha olhando a paisagem através da janela. Não queria vê-lo. Estava zangada com meu irmão, com meus pais que não deram um jeito de levá-lo logo ao veterinário, comigo mesma, por não ter lhe dado atenção ultimamente. Ainda no carro, olhei para ele um instante e seus olhos estavam entreabertos. Parecia o mesmo olhar sonolento de sempre.
Em casa, o colocamos em cima da mesa da garagem novamente. Eu e minha tia o observamos com cuidado. Confesso que ainda procurava algum sinal de vida. Era tarde, mas não podíamos descuidar de um desfecho digno para aquele bom companheiro.
Fomos ao quintal. Eu peguei uma pá e uma enxada. Cada um cavou um pouco. Foi difícil – o solo era muito pedregoso. Cavamos uns três buracos até conseguirmos uma profundidade adequada. No começo, o clima ainda era pesado, mas depois estávamos rindo de nossa falta de habilidade com aqueles instrumentos. Eu me vi criança novamente, “estudando” anfíbios com minha irmã e outros amigos em um matagal perto de casa.
Quando, enfim, terminamos, minha tia o colocou cuidadosamente dentro do buraco. A primeira pá de terra trouxe novamente aquele clima fúnebre. Colocamos madeira em cima para que os cachorros não o desenterrassem. E minha mãe declarou que nunca mais criaria gatos.
Hoje, quando vi seu pratinho de comida, senti uma tristeza profunda. Se os gatos têm sete vidas, onde é que eu estava quando o meu bichano perdeu suas outras seis?
4.30.2009
4.29.2009
5.15.2008
Nas asas do vento
Ela molha os pés
Com a brisa da praia
Ela vai ao céu
Navegando à deriva
Sozinha segue seu caminho
Viajando sem rumo na vida
Aonde vai chegar?
Aonde vai chegar?
Talvez chegue nas asas do vento
Ao meu pensamento
Talvez viaje o mundo
E quem sabe sem
Nunca chegar
A algum lugar
Que a leve pra longe do tempo
E encontre um alento
Que possa fazê-la parar
De caminhar...