4.30.2006


Ela
Ela caminha como as ondas que se desmancham lentamente na praia e o seu olhar penetrante me asfixia como quando prendo a respiração para deter aquele soluço que me toma depois do almoço ela não tem definição poderia dizer que é o orvalho que me refresca e que seu sorriso inebriante estremece meus dedos que vivem no ímpeto de tocá-la mas é como a nuvem de fumaça do meu cigarro que ela tão logo se perde dos meus olhos ela é o câncer que maltrata meus pulmões o pesadelo que me tira o sono ela é a melodia da canção que compus depois de ver aquele trailer do cara caminhando na praia com capa de chuva ele também cantava pra uma garota e elas até se pareciam será que ele a conhece? não ela não é do tipo que dá trela pra qualquer um é por isso que até hoje eu não sei o nome dela.

4.28.2006


FILOSOFANDO
Só me vê
De verdade
Aquele que consegue
Ver a solidão
Por trás do meu
Sorriso
Aquele que
Me vê
E não me entende
Que procura
Compreender-me
E, logo em seguida,
Desiste...
Porque não adianta
Caminhar no escuro
Em meio
A espinhos...
Não acredite
Na minha
Alegria
Nem tampouco
Nas minhas
Lágrimas...
Meu espírito
Reflete a loucura
De um mundo
Que não me deseja
Apenas o silêncio
Se faz presente
Nos meus
Diálogos
E inúmeros
São os meus
Monólogos:
Pensamentos
E palavras
Que já nem eu
Suporto mais ouvir...
Essa é a
Filosofia
Da minha vida:
Um imenso
Vazio
Traduzido
Em palavras
Vãs...

4.26.2006

Poema para Clarice

QUERER MEU...
leve
como pétala
que baila ao sopro da brisa
que de tão leve
leva em si sorrisos
efêmeros lampejos de felicidade
branca
como as nuvens
numa bela manhã ensolarada de domingo
e como a paz
que habita as montanhas
longe
que de tão longe
não chegasse nunca
e o sonho
permaneceria
sonho
inalcançável
belo
que de tão belo
detalhes
perfeitos
meu
tão meu
que
esq(s)eria
clara
que de tão clara
Clarice.

4.24.2006

DE SACO CHEIO DO MUNDO

o mundo está cheio
de gente
com fome
com raiva
cansada
de saco cheio
de pedir
implorar
fugir
chorar
tudo corre rápido demais
não há mais tempo pra sorrir
nem pra ouvir a criança
(sem nome) que chora
pois o mundo está cheio
de censura
amargura
loucura
cheio de gente
que grita
em meio a uma multidão sem rosto
sem voz
há pessoas demais
poucas flores
o mundo está cheio
de cadáveres ambulantes
suplicando
pra que tudo seja como antes
lá fora
sinais de uma luta
Bandeira surrada
e o beco
só se vê o beco
pois o mundo está cheio
e eu
estou cheia do mundo
suas manias
paradigmas
perversões
há gente inventando
amores
flores
momentos nunca vividos
pra não morrer
de desilusão
psssiu!
eles não sabem
que são apenas fantasmas
esquecidos
mas o mundo está cheio
de “povo”
do povo que não é gente
dessa não-gente que é poeta
que ri pra não chorar
que não sabe o que é o amor
e mesmo assim morre de amar
o mundo está cheio
de ilusão
e eu
que estou cheia do mundo
sou apenas mais uma
grande interrogação.

4.19.2006

Boneca de Pano

Quando pequena tive muitos brinquedos. Alguns caros, outros nem tanto. Lembro, contudo de uma velha bonequinha de pano. Não era muito bonita, nem tampouco limpa, mas era uma boneca com cara de infância e exalava um gostoso perfume.
Tinha olhos que pareciam falar comigo. E ficavam tristes cada vez que ganhava um brinquedo novo.
Esquecia a pobrezinha algumas vezes – ficava de lado vendo-me crescer e esquecer cada vez mais dela. Mas permanecia ali, firme, à espera de um olhar sequer, de uma lembrança saudosa.
Lembro de uma canção que papai gostava de dedicar a mim. Sempre que ela tocava, papai, como que tentando trazer-me de volta à infância, colocava minha velha boneca de pano entre meus braços cruzados. Aquilo me fazia rir. Sentia mesmo saudade, mas não sei se de algo que realmente vivi ou se de alguma coisa que não permiti acontecer. E perdi... De alguma forma perdi a infância, que quase não lembro mais, que deixei passar rápido demais. E perdi o doce prazer de rir das coisas que não entendo, do vento que bagunça meus cabelos, das ondas do mar que fazem meus pés afundar na areia.
E minha velha boneca de pano ainda me espera, ansiosa, voltar para lhe tirar da caixa amarelada pelo tempo, onde guardo lembranças que-esqueci-de-lembrar. Ainda me espera para brincar de menina descalça e boneca despenteada na cama de papai.

4.17.2006

Textículos

VAZIO

Caí no imenso vazio do espaço sideral
E ele coube todo dentro de mim
Mas, se vazio é ausência, é nada
O que será essa totalidade que senti?

NATURALMENTE
um dia
veio o vento
levou o sorriso...
a chuva
camuflou o pranto
a dor se misturou
ao grito
a morte...
confundiu-se com o sono

_ e eu morri.

EFEMERIDADE
tão grande
é a efemeridade da vida
que ela passou por mim
e nem percebi
­_ quando vi
já estava morta.

MISTÉRIO
o que seria dos poetas
se não houvesse a lua
para lhes dar inspiração
em suas noites solitárias?!

4.14.2006

O Estranho

Em uma noite nada interessante, Antonia passeava, meio sem rumo, pelas velhas ruas da cidade, agitada pela música dos bares-cheios-de-artistas.
Sentou-se para escrever um poema, mas a noite não trazia inspiração. Foi quando avistou um velho homem, grande e inquieto. Ele andava para um lado e para o outro, ia e vinha, tal qual o pêndulo do relógio. Mas não marcava o tempo. Parecia que tinha todo o tempo do mundo – prova disso eram as marcas em seu rosto. Às vezes parava, observava. Sentia a música, que era tocada por dedos ágeis. E de novo saía em sua peregrinação rumo a lugar nenhum. Contudo, apesar de agitado, tinha o semblante sereno. Demonstrava ser um bom homem.
E era.
Era um professor, agora já aposentado, da velha escola na qual Antonia estudara. Há muito não o via e quando achou que não fosse reconhecê-la, caminhou em sua direção e sentou-se ao seu lado. Perguntou-lhe se estava triste. Apesar de estar, disse que não, pois ela também não sabia o motivo de tanta tristeza. Mas ele viu através de seus olhos alguma angústia. O estranho é que ela também percebeu algo obscuro em seu olhar.
Conversaram durante longas horas – mais ele com ela do que o contrário. E fez Antonia sorrir e refletir. Arrancou ainda algumas palavras de seu silêncio. Falaram sobre a antiga escola, contou-lhe histórias e estórias. Reviveram, enfim, o passado... Um passado de boas e más lembranças, como todo passado.
Ele era um adorável estranho conhecido. Conhecido o bastante para falar com ela, porém estranho o suficiente para ela contar-lhe seus segredos, apesar de tentar deixá-la à vontade para isso.
A noite começava a correr rápido demais a Antonia assustou-se ao perceber que já era tarde. Ofereceu ao velho professor um belo sorriso de gratidão, despediu-se e foi embora. Ele, por sua vez, permaneceu mais um tempo sentado na grande pedra que dividiam. Depois se levantou e continuou sua peregrinação pelas ruas mal-iluminadas.
No ônibus, de volta para casa, Antonia relembrava sua conversa com o estranho amigo. Ria discretamente, às vezes, e sentia uma imensa saudade de algo que desconhecia. Uma saudade tão imensa que lhe doía a alma.
Talvez não percebesse, mas um belo poema havia sido escrito naquela noite e aquela noite transbordava poesia. Um tipo de poesia que não cabe no papel. E Antonia estava repleta dela sem saber.

4.11.2006

...
Ele queria que ela fosse igual a ele. Ela tentou. Ele não gostou do que viu. Pra que desenhar metáforas, se as antíteses são o que lhes restam? Seus braços estão cansados de remar em vão (os dele ou os dela?). Alguém bate à porta. É hora de sair. É tempo de se deixar ir, dar voltas ao redor de si mesmo. O que há pra se descobrir? Ele queria se perder. Ela queria se encontrar. Duas crianças sem rumo. E acabaram ambos num silêncio de qualquer instante perdido. O vento ainda sustenta alguma melodia sussurrada. Até quando?
"E mais: não só inalcançável por ele mas por ela própria e pelo mundo. Ela vivia de um estreitamento no peito: a vida." (Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

4.10.2006

O céu do Timor

Foto: Rai Castro
FUGA
O poema pousou na nuvem

e ela se desfez
em prantos
e rimou e(m)cantos
por onde pairou
pousou sobre a vida
viveu amores

vôou
conDORES
se perdeu no horizonte ao entardecer
e retornou ao que era
antes mesmo de ser
pensamento perdido
solto
sem rima
verso branco
como a nuvem desfeita
sombra do inexistente
poemaranhado de ilusões.

O sorriso é a expressão da alma, ou pelo menos um pouco disso...

Não sei como, mas isso aí em baixo virou música. Isso é o que acontece quando não se tem nada pra fazer!
Quando ela sorriu
Ela apenas sorriu
E o seu sorriso quebrou minha solidão
As portas do paraíso se abriram
E eu pude então ver o sol
Que há tempos de mim se escondia
Que não me permitia ver o mundo
Suas maravilhas
A vida aconteceu
Quando você apareceu
Nas entrelinhas escrevo
Um poema
Pra você
Lembra daquele dia
Em que fomos felizes?
Você estava linda
E eu era só eu
Imperfeito
Seu riso é o rio
Que corta as margens do meu papel
Quando você canta
A vida se encanta
E eu me perco mais em seus olhos
Onde foi que você me perdeu?
Não viu que eu era seu...
Ela apenas sorriu
E o mundo se desfez
Eu me perdi
Na embriaguez
De suas palavras
No leve toque de seus dedos
No suspiro que guarda
As horas amargas
No medo
Quando ela sorriu...

4.08.2006

Essa foto é em homenagem a Caramello e à toda a sua criatividade que transborda e nos enche de sensações ímpares. Lembra da cena dos pés (Antonia), Carol? Pra vc! Bj.

que lugar é esse
em que me encontro
que não me permite falar
onde meu pranto é contido
e ninguém compreende o que vejo
roubaram os versos
que enfeitavam minha doce melancolia
no vazio do silêncio acordei
entre soluços
segue a vida
que não sei viver
sonhar
ah... mar!
que me invade tão violentamente
e me tira o ar
e sufoco
mas que lugar é esse
que não sei se fico
ou se vou
que não sei se me leva
ou abandona
só queria meus versos
que se perderam
e me perdi
só queria...

sozinha.

4.07.2006

A vida coagulando em minhas veias...
Eu sinto saudade de coisas que nem sei... De pessoas queridas, momentos que não se repetirão jamais. Saudade do que perdi, do que não fiz ou não disse. De mim mesma... Do sentimento que impedi florescer, do amor que não deixei ser amado, da vida que deixei morrer. Eu sinto saudade até de quem nem sei se existe. Talvez seja alguém por quem espero. Alguém que existe apenas em mim.
...

Qual é o caminho que se pega quando não se tem aonde ir? Você diria qualquer um, mas eu respondo caminho algum. O melhor é não fazer nada. O silêncio talvez diga algo, quem sabe... Talvez ele só fique quieto, como todo silêncio. E ria, baixinho, do meu desespero, da minha impotência.
Quando é que vai amanhecer?
Quero voar com os pássaros por sobre a vida. Quero ver de longe o céu derramar seu pranto. E retornar, aliviada, para algum lugar que eu possa chamar de lar. Dentro de mim. Ser é tão vasto... Meu mundo é deveras imenso e não sei onde me esconder quando a angústia esmaga minhas cordas vocais. O vinho transborda e a taça, estraçalhada em pequenos cristais, rasga a mão trêmula que se banha num vermelho escarlate.
A mancha no chão é ainda vibrante como as cores de uma manhã ensolarada de verão, como a tela que pintei ontem com as cores do entardecer.
"A tinta ainda continua fresca em suas mãos, o chão continua molhado..." (Dos Santos).