4.19.2006

Boneca de Pano

Quando pequena tive muitos brinquedos. Alguns caros, outros nem tanto. Lembro, contudo de uma velha bonequinha de pano. Não era muito bonita, nem tampouco limpa, mas era uma boneca com cara de infância e exalava um gostoso perfume.
Tinha olhos que pareciam falar comigo. E ficavam tristes cada vez que ganhava um brinquedo novo.
Esquecia a pobrezinha algumas vezes – ficava de lado vendo-me crescer e esquecer cada vez mais dela. Mas permanecia ali, firme, à espera de um olhar sequer, de uma lembrança saudosa.
Lembro de uma canção que papai gostava de dedicar a mim. Sempre que ela tocava, papai, como que tentando trazer-me de volta à infância, colocava minha velha boneca de pano entre meus braços cruzados. Aquilo me fazia rir. Sentia mesmo saudade, mas não sei se de algo que realmente vivi ou se de alguma coisa que não permiti acontecer. E perdi... De alguma forma perdi a infância, que quase não lembro mais, que deixei passar rápido demais. E perdi o doce prazer de rir das coisas que não entendo, do vento que bagunça meus cabelos, das ondas do mar que fazem meus pés afundar na areia.
E minha velha boneca de pano ainda me espera, ansiosa, voltar para lhe tirar da caixa amarelada pelo tempo, onde guardo lembranças que-esqueci-de-lembrar. Ainda me espera para brincar de menina descalça e boneca despenteada na cama de papai.

4 comentários:

Jana! disse...

ai, esses textos que remontam à infância me derrubam... eu ainda tenho um velho urso azul, chamado herzog... um urso azul, sem qualquer atrativo. agora, ele já está todo rasgado.e eu ainda o amo, como se sempre amasse.

eSQCer disse...

É, eles parecem vivos como as lembranças de um tempo ainda tão presente.

Alexandra disse...

ei esqcer é tu. a jana tá certa. texto de infância é golpe baixo.ela que sempre resgata uma alegria velha. a gente correndo atrás dos olhos antigos. ihh, tô meio chata. bom te encontrar.

C G M disse...

a boneca de açucar vei te dar um alô. vamos brincar?